[RP FECHADA] The Call

Após um angustiante pesadelo e já não muito ciente de seus atos por ter bebido algumas garrafas de uma bebida barata, Aiden decide ligar para a pessoa mais improvável do mundo: Alecto. A conversa que se desenvolve a seguir não tem nenhum tipo de previsão, e qualquer coisa pode ser esperada...

- Participantes: Aiden Veal Gough & Alecto Gorgon
- Data: Dias Atuais
- Horário: Por voltas das 3:15 da manhã
- Local: Mansão em Long Island

☠Estava completamente alterado, mas consegui subir as escadas ainda que cambaleando. Nada mais parecia fazer sentido, as preocupações pareceram insignificantes, por esse motivo os sorrisos apareciam rápido no meu rosto. Perdi a noção de quantas garrafas havia bebido e a visão turva servia apenas para me deixar mais estupidamente feliz.

- Opa, quantos degraus tem nessa escada? Parece que se multiplicaram. – indaguei, tropeçando e me segurando no corrimão.

- Tropeço, mas não caio. Precisa mais do que isso pra me derrubar. – elevei minha voz de uma maneira irritada. As emoções estavam no ápice, mudando em questões de segundos. Poderia dizer que a bebida possui um grande poder de me deixar ainda mais bipolar.

Subindo mais alguns degraus, por fim cheguei ao segundo andar e buscando o apoio das paredes, segui para o meu quarto.  Tudo estava escuro, o que tornava aquela caminhada um verdadeiro desafio. Não me lembro de ter nada que pudesse estar em meu caminho, mas logo na entrada de meu quarto, fui ao chão com facilidade, acho que tropecei em meus próprios pés. Desabei com tudo.

- Ok, estamos empatados... Agora me deixa ficar um pouco deitado aqui... – falei para o nada, colocando-me de barriga para cima e experimentando dessa vez uma nova sensação, a melancolia.

As lembranças voltaram novamente, a sensação de fracasso, a raiva de mim mesmo por volta e meia estar bancando o pobre coitado incapaz de lidar com suas emoções e seus problemas referentes ao passado. Claro que isso na frente dos outros era evitado ao máximo, mas eu não estava feliz, não gostava de acordar no meio da noite por causa de um pesadelo e de ter que sair e/ou beber sempre que isso acontecia. Eu precisava ser mais forte do que isso.

- É, mamãe, você foi uma grande vadia e se tivesse feito algo, tudo seria diferente. – deixei que uma lágrima de rancor rolasse pelo meu rosto, enxugando-a logo em seguida, preparando-me para recuperar meu mínimo de dignidade. Precisava me levantar para voltar para cama. Eu não sabia quantos passos eram, mas certamente seria outro grande desafio.

- Mas desafios são feitos para serem superados. – pus-me auto confiante, levantando meu corpo em um impulso único. Manter o equilíbrio quando já estava de pé foi difícil, eu parecia capaz de tombar para qualquer lado, mas consegui caminhar até a cama e desabar sobre ela, pensando em dormir rapidamente. Era isso que eu acontecia na maioria dos casos quando bebia demais e deitava, mas naquele dia algo parecia completamente errado, minha rotina estava virada de cabeça para baixo e como se não bastasse não apagar de imediato, o rosto dela apareceu novamente em meus pensamentos. O rosto da irritante Alecto. E se me visse daquela maneira... Ah... Felizmente a morena não tinha um poder capaz disso, mas o que eu tinha era muita curiosidade e uma coragem besta de esquecer de toda minha postura e ligar para ela no meio da madrugada.

Eu ainda me sentia tentado a descobrir o segredo dela de sempre parecer tão firme. Talvez lhe faltassem sentimentos e se fosse assim, ela poderia ajudar, ela deveria me ajudar a nunca mais me importar com nada e com ninguém. Obviamente em meu estado sóbrio  nunca uma idéia estúpida como essa passaria pela minha cabeça, mas eu deixei para me arrepender depois de meus atos. Peguei meu celular e ainda tendo dificuldades de enxergar os números que pareciam ‘dançar’ no visor, liguei para ela. A hora – certamente já passavam das duas da madrugada - não fez diferença, Miya dormindo ao meu lado também não, eu só queria falar e falar com ela, com a General Gorgon.

Esperei que atendesse do lado da linha, isso demorou alguns segundos, mas quando ouvi o cumprimento mau humorado da casa doze, logo disparei sem ter uma noção exata do que falava.

- O que você faria se tivesse um filho?

A pergunta poderia parecer sem sentido, mas para mim significava tanta coisa. O curioso é que nunca tive coragem de perguntar isso para Miya, que apesar de tudo, tentava me ajudar com os traumas do passado, mas eu nunca me sentia confortável o suficiente para revelá-los . Com Alecto as coisas eram diferentes, apesar de eu saber que em 99% do tempo ela nunca dava atenção para o que se passava comigo e que na primeira oportunidade seria capaz de usar isso contra mim. Talvez fosse isso o que procurava, não por ser alguém que gostasse de sofrer, mas por ser alguém que precisasse confrontar dia a dia seus piores traumas na tentativa de se tornar ‘calejado’ o suficiente para que eles não me machucassem mais.

AÇÕES:

FICHA X:

☠Suspirei de maneira pesada ao ouvir a resposta de Alecto, apesar de não me sentir surpreso. Realmente, a minha pergunta para ela não fez nenhum sentido e eu não cobraria que fizesse. De início me deixei irritar com sua resposta, insistindo na idéia de que ela era apenas mais uma incapaz de ser mãe, por isso o silêncio se fez presente por longos segundos. Eu só ouvia sua respiração e em minha mente um milhão de pensamentos se misturavam. Poderia dizer tantas coisas, mas nada faria sentido. Até mesmo pensei em desligar quando um súbito lampejo de sanidade apareceu, eu até mesmo olhei para o celular, mas não fiz isso. Voltei o aparelho ao meu ouvido e confessei:

- Às vezes acho que ela deveria ter feito isso, assim nos pouparia de tantos problemas. – fiz uma breve pausa, relembrando e deixando que meus pensamentos me levassem até o mais improvável, pensei em como seria a minha vida com um filho. Certamente eu estragaria tudo.

- Nunca tenha um filho se você não puder lutar por ele. – as palavras saíram sem nenhum tipo de ponderação, sem nem um segundo de reflexão, eu apenas disse.

Não desejava explicar o que acontecia, evitava mostrar o rancor que tinha oculto, um rancor que obviamente não era culpa da morena, mas sim de uma Margareth suicida e fraca em todos os sentidos, essa era minha mãe e eu tinha muita vergonha – e medo – de lembrar que por muitas vezes quando criança achei que éramos muito parecidos .

Para Alecto aquilo poderia parecer um enigma de bêbado, o que se pararmos para pensar, era mesmo. No entanto, eu via como um desabafo.  Esperava receber uma patada a qualquer momento, talvez até mesmo quisesse isso só para sentir a raiva eclodir de uma maneira incontrolável e assim iniciarmos uma discussão. Com isso eu mudaria meu foco para algo diferente, então teria a oportunidade de dizer que ela não se importava com nada, que era uma egoísta e ela poderia me ‘despertar’ para a realidade do que eu realmente deveria ser. Pois bem, talvez o que mais precisasse fosse um ‘tapa na cara’ para parar de ser tão incapaz de lidar com minhas fraquezas.

AÇÕES:

FICHA X:

☠Ouvi cada palavra da mutante e, apesar de não estar sóbrio, não fui capaz de deixar que nada escapasse de minha atenção. De princípio a calma permaneceu, virei-me de lado da cama, deixando escapar um suspiro ruidoso, fechando meus olhos e tendo a sensação de que o mundo girava ainda mais quando tudo se punha completamente escuro.

- É... – retruquei de maneira arrastada e calma, com a risada que Alecto soltara ainda se repetindo em minha mente. E pouco a pouco a irritação foi me consumindo. Adotei o silêncio por alguns segundos mais, agora relembrando de tudo o que já ouvi de Hommer. A última frase da zodíaco soara exatamente como algo que ele sempre dizia, só que para ele eu não digno de estar naquela família, pois... ‘não era como eles’... Eu nunca era como ninguém.

- Realmente eu não sou como a maioria das pessoas e nem como a maioria dos mutantes... Não são todos que matam seu irmão mais velho e ficam felizes por verem que seu ‘pai’ está inutilizado em uma cadeira de rodas... Não são todos que causaram o suicídio de sua mãe... E muito menos que conquistaram tudo o que conquistei até agora. – a voz continuava mansa, mas ganhava um tom mais duro a cada palavra emitida, e pouco a pouco esse tom se tornava mais volumoso, raivoso. As batidas furiosas do meu coração ganhavam cada vez mais força, servindo de combustível para tudo o que precisava naquele momento: ódio.

- Incomodada com minha presença em seu grupo de elite, General? – até então a fúria era demonstrada com um tom generoso de sarcasmo, algo que foi se tornando mais e mais colérico.

- Lamento informar que não serei como aquela vaca fraca que desistiu de tudo quando viu sua vida patética desmoronar... E não vai ser você agindo como o Hommer que vai me fazer pensar nisso. Ele não conseguiu, você muito menos. Eu sou o melhor que esse grupo tem. – naquele momento a voz já estava explodindo, assim como a fúria. O celular já estava de frente ao meu rosto, o microfone captando os berros. Repentinamente me levantei, sentando-me na cama.

- Eu sou o melhor que VOCÊ tem. – esse foi o ápice da discussão, tendo o poder inclusive de despertar aquela que dormia no mesmo quarto.

- Aiden, o que está acontecendo? Por que está gritando? – Miya perguntou, ainda sonolenta. Virei meus olhos para ela e disse, sendo mais seco que o deserto:

- Volta a dormir, não é da sua conta. – levantei-me e sai do quarto, encostando a porta e me recostando contra a parede. Quando percebi, já estava sentado no chão, olhando para o visor do celular,querendo xingar aquela maldita do outro lado da linha,mas reconhecendo que ela havia ajudado, pelo menos naquela noite. Voltei a colocar o aparelho contra o ouvido e titubeei a fazer a pergunta que tanto queria, essa seria muito difícil...

- Sabe... – ameacei começar, agora de uma maneira mais branda.

AÇÕES:

FICHA X:

☠Alecto tinha razão em uma parte, eu lamentava sobre o suicídio de Margareth, mas ela se enganava ao pensar que eu também me abalava com o resto dos problemas que tive em família. Não sentia remorso algum quanto ao assassinato de Dustin, tampouco eu me martirizava pela invalidez de Hommer, mas se tratando de Margie...

Por muitos tempo ignorei esse sentimento, a culpa por tê-la expulsado do meu quarto no campus quando ela apareceu toda chorosa, desculpando-se por tudo o que NÃO havia feito. Eu disse que era tarde demais, que não precisava mais dela como precisava quando era uma criança. Ela havia perdido sua chance, não havia mais tempo para perdão. Ela deveria seguir em frente... Mas não seguiu. E Hommer fez questão de revelar tudo isso quando nos encontramos novamente, tantos anos depois. Passei tanto tempo ignorando, não querendo descobrir o que havia ocorrido com a família Veal Gough para no fim ser tolo em procurar o velho e sofrer mais uma vez com seus jogos e manipulações. Maldita hora em que fui procurá-lo para esfregar na cara dele o que havia conquistado.


Após toda minha explosão, ainda sentado e com as palavras entaladas na garganta, permaneci mudo por alguns segundos mais, pensando, ouvindo alguns sons do outro lado da linha. Quando um pouco de coragem e insanidade se apoderou de minhas vontades, consegui dizer, finalmente, mesmo que em pausas longas e tomado pela insegurança:

- Sabe... Eu só queria saber como você faz...  – e suspirei, jogando e batendo de mau jeito minha cabeça contra a parede. Engoli a reclamação.

Estive a ponto de desistir de tudo, de desligar, de apagar da memória todo meu momento patético. Nunca fiz um papel tão ridículo após uma bebedeira, nem quando insultava brutamontes com o dobro do meu tamanho e do meu talento em causar confusão. Mas eu não desliguei, eu prossegui:

- Queria saber como você se mantém firme mesmo após tudo o que aconteceu. Eu não sei exatamente o que você passou, mas posso deduzir que suas marcas não ficaram só em seu corpo... Queria saber como as apagou de sua mente. – e assim me mostrava  exatamente como ela queria que me mostrasse, pelo menos eu acreditei que ela queria aquilo, que queria me ver derrotado, que queria que eu aceitasse que era um fracassado.

Irritado comigo mesmo por ter lançado todo meu orgulho na lama, bati mais uma vez a cabeça contra a parede, dessa vez de propósito, dessa vez muito mais forte, forte o suficiente para me fazer sentir a dor permanecer pulsando por um longo tempo. Mas eu já não me importava mais. Sabia que quando a encontrasse novamente, iria agir como se nada tivesse acontecido, sabia que, apesar de sob o efeito do álcool, não esqueceria a burrada que estava fazendo. Mas eu continuei a fazer... Não iria parar, não quando, apesar de tudo, já me sentia melhor. E a esperança que ela respondesse bateu forte, inclusive me dando a coragem para ser ainda mais idiota...

- Eu só queria que você me ajud...

- Aiden, por que não volta pra cama?!  – Miya apareceu repentinamente  ao meu lado, com sua voz manhosa e envolvida nos lençóis.

Levantei meus olhos, bufando de maneira irritada.

- Você bebeu não foi? Já disse que se quiser eu te ajudo, é só você falar o que sente. – ela insistiu e eu abaixei minha cabeça, contendo todos os xingamentos, ainda com o celular no ouvido, quase rosnando de ódio por causa da interrupção. Apertei o botão para deixar o aparelho mudo, ou pensei que havia apertado...

- Você sabe que eu não gosto de ser interrompido, estou resolvendo um assunto de trabalho.

- Assunto de trabalho e fedendo a álcool? – ela retrucou, elevando a voz.

Eu odiava quando faziam isso, mas não gritei, não parti para grosseria. Suspirei, obrigando-me a resgatar um mínimo de paciência:

- Volta pro quarto, eu já estou indo.

Por alguns segundos ela permaneceu de pé, me olhando com seus olhos pequenos e nada compreensivos, mas logo se virou e fez o que eu pedira. Ouvi a porta bater com força, ao ponto de estremecer levemente tudo o que me rodeava. Revirei meus olhos, pensando em como achava aquela atitude dela ridícula e voltei ao celular, percebendo que ainda estava bêbado o suficiente para me enganar. Alecto deveria ter ouvido tudo, eu não havia mutado aquela porcaria. A zodíaco não era tola, sabia que eu não estava ‘normal’, mas agora tinha a completa certeza de que eu estava bêbado. Logo desligaria. Apenas esperava na linha para dizer o quanto inútil e sem noção eu era por incomodá-la de madrugada e após ter bebido.

- Ah... Merda...  – deixei escapar a lamentação, enquanto sentia a raiva por mim mesmo aumentar. Ajeitei os cabelos, puxando-os para trás de maneira violenta, levei a mão livre à área da nuca só para sentir o quanto sensível ainda estava.

- Pode desligar, pode me xingar. Estou sendo um idiota mesmo. – e esperei pela resposta, fechando os olhos, agora tendo mais cuidado ao me recostar contra a parede. Já tinha feito tudo o que não devia, não tinha mais nada a perder.

AÇÕES:

FICHA X: