Já se havia passado cinco dias. A falta deles já havia sido sentida. A polícia já estava atrás. E eu continuava com os pesadelos. Todas as noites, todas as horas que tentava dormir, a todo momento eu via eles gritando xingamentos, a máscara da mulher, o poder irradiando dela, e então sombras... sombras no formato de flechas, sombras no formato de balas, sombras no formato de espadas, machados, martelos, maças, pistolas, revólveres, fuzis... todas caindo em cima deles e massacrando-os. Os gritos de dor, de desespero, gritando por ajuda, tudo isso sendo abafado, até não sobrar mais nada... além do horror em minhas veias, ao meu redor, me sufocando, me matando, me puxando para baixo... e então eu acordo. Suando frio. O quarto congelado. Meu próprio corpo na forma de gelo, com pequenas gotas congeladas sobre minha pele refletindo a luz da lua que entra pela janela. Toda noite era a mesma coisa.
Estava acabando de lavar a louça da janta, ouvindo as notícias do jornal que passava na televisão ligada. Havia jantado lasanha, preparada, cozinhada, e degustada por mim mesmo, e várias panelas me esperavam ainda para serem levadas. Ao lado da pia jazia uma garrafa de cerveja belga fazia. Vez ou outra gostava de comprar e degustar uma daquelas quando cozinhava algo mais gostoso. O jornalista na televisão falava algo sobre as eleições que estavam se aproximando e o que os candidatos estavam fazendo em seu dia-a-dia, em cada estado por qual passavam. E então a campainha tocou.
-DING DONG!-
"Nossa... quem será nesse horário? Eu não encomendei nada, muito menos soube, recebi ligação, ou fui informado pelo porteiro que seria visitado. Será que recebi algum e-mail e não vi?" perguntava secando minhas mãos, enquanto caminhava para a sala e abria a porta, me deparando com dois homens, altos, fortes vestidos com roupas escuras:
- Posso ajudar senhores? - perguntei, já sentindo minhas pernas bambolearem e pensando que eles deveriam estar ali pelo acontecido do clube de lutas.
- Senhor James Evans? - eles perguntam para mim juntos.
- Sim.
- Somos os agentes Wood... - começou a se apresentar um dos homens.
- E Stone, e estamos atrás de informações sobre a morte de alguns companheiros seus na noite da última sexta feira. Podemos entrar? - o homem pergunta.
- Sim sim, é claro, entrem por favor - digo dando um passo para o lado e apontando para a sala e os sofás para os homens. Estes entram um atrás do outro e andam em fila indiana até um dos sofás, observando tudo ao redor deles e sentando lado a lado me observando. Fecho a porta e me dirijo até os homens, me sentando em minha poltrona a frente deles. O silêncio reinava por um momento ali, onde nenhum dos três fazia qualquer movimento, a única coisa que podia ser era a respiração dos três homens.
- Posso ajuda-los de alguma forma?
- Senhor Evans, somos da polícia e estamos tentando solucionar o caso da morte de cinco homens que saíram do laboratório que o senhor chefia, foram até um estabelecimento desconhecido com o senhor, e acabaram mortos. O senhor não foi acusado ainda por faltas de provas. Mas acreditamos que o senhor não seria capaz disso visto a sua ficha nos registros que pudemos checar, então estamos aqui para recolher informações de sua pessoa para resolvermos o mais cedo possível essa situação. Então, o que me diz? - disse o senhor Wood a todo momento, enquanto o senhor Stone puxava um gravador, ligava e o colocava em cima da mesa de centro que ficava entre nós - Vai nos ajudar?
- Como queiram senhores - comecei a dizer lentamente - Um de nossos amigos, John, havia nós dito que nos levaria até um lugar de diversão, onde iriamos rir, nos divertir a noite toda e voltar felizes para casa. Quando chegamos até o local, descobrimos ser um clube da luta. Um local onde mutantes, inumanos, e humanos modificados poderiam lutar, se mostrar e morrer, para o prazer e deleite de outros - disse fazendo uma pausa.
- Pode nos dar o endereço desse local, senhor Evans? - perguntou o senhor Stone.
- Sim, sim, é claro - disse, buscando um papel e caneta, escrevendo o endereço do clube de lutas, e entregando para os dois homens.
- Obrigado senhor, continue - disse o agente Stone
- Entramos e fomos até um ponto no centro de uma arquibancada, ficando de cara com o ringue e tendo uma visão privilegiada das lutas e dos lutadores - dizia tentando lembrar de todos os fatos e sentindo os tremores voltarem em mim - Ia luta e voltava luta, meus companheiros ficavam cada vez mais anestesiados pela loucura do local, gritando, pulando, e apostando nas lutas. Até que chegou o momento onde um homem e uma mulher iriam se confrontar, esse homem logo que entrou na arena, se transformou em lobo, enquanto a mulher usava uma máscara, então não pude ver seu rosto, somente um nome quando anunciaram a luta: Scorpion - fiz outra pausa buscando ar enquanto observava os homens se entreolharem, como se já tivessem ouvido aquele nome - Meus companheiros começaram a gritar... coisas, xingamentos, barbaridades para a mulher, algo que não repetirei aqui senhores, mas que acredito que possam imaginar. Coisas que nenhuma mulher deveria ouvir, humana ou mutante, de bem ou de mal. Comecei a me afastar lentamente deles, tentando não ser confundido e pensarem que eu estava com o grupo. Nunca havia visto-os daquele jeito. E então aconteceu... em um piscar de olhos, meus amigos foram jogados para dentro da arena pelo que pareciam.. setas negras. Achei que com isso iriam parar, mas quando a mulher os confrontou, eles voltaram a xinga-la e a falar barbaridades. Um deles, John, tentou até mesmo toca-la, mas ela tirou uma arma de sei lá aonde e cortou seu braço na frente de todos! Nesse momento só ouvia gritos na arena provindos de meu amigo... a plateia estava em silêncio. Foi então que a mulher levantou os braços e fechou as mãos, criando... pareciam setas negras muito pequenas... quase virotes daqueles de bestas medievais, caindo sobre meus amigos e massacrando-os... não restava mais nada no fim, quando a luta entre ela e lobisomem começou. Nada, além de ossos e sangue - falei, tentando recuperar meu ar... lembrar de tudo aquilo havia sido difícil...
- Muito bem senhor Evans, já conhecemos essa tal de Scorpion, uma criminosa, com uma longa lista de crimes. Sabendo que ela causou tudo isso, e o local, ficará muito mais fácil resolver esse crime. Consegue se lembrar de mais alguma coisa do acontecimento? O que fez após tudo isso? - perguntava o senhor Wood.
- Tudo o que me lembro já lhes contei... após isso fui-me embora, sai daquele lugar maldito, tomei um táxi e vim para casa. Não olhei para trás, não podia... lembrar naquele momento do que havia acontecido, ainda estava muito em choque, muito horrorizado - dizia lentamente com o olhar fixo.
Quando terminei, os homens trocaram mais algumas palavras entre si, pegaram seu gravador, o papel com o endereço que havia dado e se levantaram, se preparando para ir embora:
- Muito obrigado senhor Evans, o seu depoimento foi muito importante e ajudará a resolver tudo isso - dizia o agente Stone.
- Sem problema senhores - disse ainda tremendo um pouco e meio perdido, após lembrar de tudo aquilo - Eu os acompanho até a saída - falei, levantando e levando-os até a porta - Passar bem agente Wood e Stone. Por favor, me informem caso descubram mais qualquer coisa.
- É claro. Tenha uma boa noite senhor Evans - disseram os dois em uníssono.
por James Taylor Evans Sáb Mar 26, 2016 1:57 am
