[RP INDIVIDUAL] Poor Guy :: Part II

☠Após um soco fugaz de Hommer, meu pai por questões meramente biológicas, eu acordei desnorteado, ouvindo gritos e muito choro. Sentia cada parte de meu corpo dolorido. Sequer ousei me levantar, tive a certeza de que se o fizesse, tudo se tornaria ainda pior, apenas levei minhas mãos ao rosto. Eu sangrava, antes mesmo de abrir meus olhos já havia sentido o liquido quente jorrar pela minha face e quando olhei para as minhas mãos empapadas, vi que realmente o homem tinha passado dos limites, nunca derramaram tanto de meu sangue em minha vida. O meu nariz estava quebrado.

- Ele está sangrando muito, deixe-me vê-lo. – era a voz de Margie, pela primeira vez soando mais alto, mas não podia competir com os berros de Hommer.

- Você não vai cuidar desse bostinha, já o mima demais. Deixa que ele se vire sozinho. – ele a agarrava pelo braço enquanto eu me levantava e olhava dentro daqueles olhos claros e desesperados. Margie pela primeira vez estava disposta a fazer algo e ainda insistiu em tentar se aproximar, mas ganhou uma chave de braço que a fez gritar de dor.

- Você vai quebrar meu braço, por favor... Não me machuque, eu o deixo, eu o deixo... – toda sua coragem desapareceu repentinamente no primeiro instante em que a dor lhe consumiu. Realmente, ela era fraca, fraca como todas as mulheres e Hommer jogou isso na sua cara:

- É bom que você se lembre quem você é nessa casa. Apenas deve limpar a sujeira e cuidar de mim. É mulher, foi feita pra isso, não queira me desafiar, você não passa de uma inútil.

- Tá vendo? Você fez a mamãe e o papai brigarem. Maldita aberração que você é.

Dustin destilou suas palavras, não perderia essa chance, mas eu apenas vi Margareth sendo solta e correndo como um animal assustado para o segundo andar. Ela nem olhou para trás. Esqueceu rapidamente sua valentia e me deixou sozinho. Percebi que nunca poderia contar com ela, tive que concordar com Hommer, ela era uma mulher inútil.

O ‘papai’ se virou para mim e com sua voz grave e seus olhos furiosos ordenou:

- Agora limpe a sua sujeira sozinho, porque é assim que vai ser durante toda a sua vida...

Realmente, foi assim que aprendi a sobreviver em toda minha vida...

Todas essas recordações surgiam de repente, e nos momentos mais inoportunos. Naquela noite em que tive esse pesadelo, estava deitado ao lado de Miya. Acordei com uma angústia me corroendo, o ar parecia rarefeito, eu sentia a falta do oxigênio em meus pulmões. Acordar dessa maneira era ganhar a certeza de que não voltaria mais a dormir, levei minhas mãos ao rosto e suspirei profundamente.  Quando aos poucos fui me restabelecendo, olhei para a mulher nua que dividia os mesmos lençóis comigo.  As perguntas sobre o motivo dela estar ali, dividindo também a mesma cama e a mesma casa que eu foram inevitáveis. Ela não deveria estar. Eu deveria estar sozinho, em meu mundo eu sempre estava sozinho.

Culpei os poderes da salina, ela conseguira me enfeitiçar e juro, estive muito próximo de expulsá-la, mas pensei que era um trabalho, não poderia descartá-la. Sem falar que era uma das melhores amantes que já tive em toda minha vida. A deixei dormir, mas eu não consegui fazer o mesmo. Levantei-me, já sabendo que aquela seria uma madrugada perdida. Tudo o que mais queria era a motivação para sair e beber, mas estava acabado, aquela lembrança que veio em forma de pesadelo pareceu ter me afetado no físico, meu corpo estava dolorido.

- O que é isso agora? Só falta meus pesadelos terem o poder de me afetar fisicamente. – rosnei, bufando logo em seguida e vestindo uma calça, pronto para descer até a cozinha.

A mansão estava em um silêncio profundo, eu podia sentir claramente toda a nostalgia que emanava. Irritei-me ao pensar no quão fraco estava sendo, deixando-me afetar por lembranças que aconteceram anos e mais anos atrás. Mesmo após tudo que havia passado, mesmo após todos os ensinamentos de Crowley, eu ainda tinha minhas fraquezas e aquilo não era o certo, a época de ser fraco e vulnerável já havia passado. Ficara para trás, na época em que eu ainda pequeno e frágil demais para me defender. Eu já estava em meus 26 anos, não era mais uma criança, precisava deixar tudo isso para trás. Mas não conseguia...

Na cozinha abri o armário e peguei uma de minhas bebidas mais baratas e fortes. No dia seguinte não contava com nenhum compromisso, por isso decidi que entornaria todas que agüentasse, apenas para quando acordar ganhar uma ressaca que me mantivesse derrubado pelo dia inteiro. Eu queria me lembrar que conseguia suportar muitas coisas e não estava disposto a sair para causar mais confusão.

A bebida barata desceu queimando minha garganta, com um gosto amargo. Sem dúvida, era uma das piores que tinha e das mais fortes também. Repentinamente a lembrança de Alecto invadiu minha mente. Eu já sabia que seu passado era tão nebuloso quanto o meu, mas ao contrário de mim, ela parecia forte o suficiente para não acordar no meio da noite por causa de um pesadelo do passado. Eu a odiava por aquilo, mas ao mesmo tempo queria saber o seu segredo, por isso pensei em ligar e perguntar, mas óbvio, ainda estava lúcido o suficiente para evitar essa grande burrada. Por sorte meu celular havia ficado no quarto e eu preferi que ficasse lá, assim não correria o risco de ligar quando minha mente já não funcionasse com exatidão.

Joguei-me sobre o sofá, esparramando-me e bebendo mais alguns generosos goles. Evitei que meus pensamentos me levassem novamente ao passado, por isso comecei a rever meus planos para o futuro.  Pensei no que queria realizar no Zodíaco, o nosso grupo ainda precisava de tantos reajustes e a líder... Bem, eu não confiava na líder, ela era como a minha mãe, todas mulheres eram, sempre pensavam somente em si mesmas.

Em meio a tantos pensamentos desconexos, e sentindo o efeito da bebida após beber mais da metade da garrafa, já me questionava o motivo de me preocupar tanto, eu deveria ser como a maioria. Deveria ser egoísta, eu poderia ser um bom egoísta, havia tido os melhores professores. Mas ainda pensava na maldita General Gorgon, na irritante Alecto que com certeza estava dormindo sem nenhum tipo de problema ou trauma para atormentá-la.

AÇÕES:

FICHA X: